intoxicados mais de 2 mil servidores na esplanada lutam por direitos
Brasília foi palco de protesto dos servidores intoxicados da Ex-Sucam, do Ministério da Defesa e do conjunto dos federais para reconhecimento do direito à Saúde, dos acordos firmados e da luta pela data-base
Junto com Condsef/Fenadsef e com diversas entidades sindicais que representam os servidores públicos nos Estados, o Sinstep-GO participou nesta quinta-feira, em Brasília, de um protesto histórico, que reuniu centenas de trabalhadores sobreviventes da Ex-Sucam (atualmente lotados no Ministério da Saúde, em sua maioria e Funasa), cobrando do governo o reconhecimento de sua situação (adoecidos por conta do trabalho), o direito ao tratamento de saúde e, também, indenizações de cunho financeiro para os servidores e suas respectivas famílias que foram prejudicadas pela ação do DDT, do BHC, do Malation e demais inseticidas utilizados no combate às endemias – PEC 17/2014.
Só entre 2016 e 2017, mais de 70 servidores morreram em decorrência de doenças graves provocadas pelo uso indevido de substâncias tóxicas usadas no combate a endemias.
Servidores como o senhor Rubens Martins, aposentado, participaram do ato. Ele explica como era feito o trabalho dos “sucanzeiros”, como eram chamados. “Não tinha nenhuma orientação de como o veneno fazia mal. Pelo contrário, diziam que não era prejudicial. Os inspetores diziam que só prejudicava seres que ‘não tinha osso’. Nós usávamos o veneno diretamente, sem nenhuma proteção. Os saquinhos estouravam, a gente respirava aquilo… e a consequência é essa, dos companheiros morrendo sequelados, de câncer”, narra. (Confira o vídeo feito com ele).
O protesto saiu às 10 horas da Catedral Metropolitana de Brasília e parou em frente ao Ministério da Saúde. Lá, devido à pressão popular, uma comitiva conseguiu falar com o chefe de gabinete do Ministro da Saúde, que prometeu agendar uma reunião de trabalho logo após o período eleitoral. “Queremos do governo a garantia da aprovação da PEC 17/2014, que prevê reconhecimento da situação dos companheiros, tratamento médico adequado e indenização para os devidos casos”, afirmou Gilberto Jorge, secretário-geral do Sintsep-GO e diretor da Condsef, que integrou a comissão.
Para Ademar Rodrigues, presidente do Sintsep-GO, o evento provou para o governo que os trabalhadores, embora adoecidos, ainda “não estão mortos”. “Enquanto vida nós tivermos, vamos lutar pelos direitos desses nossos companheiros, que são exemplo para o país. Eles se sacrificaram, ajudaram a construir a história do Brasil. O governo brasileiro não pode simplesmente fechar os olhos para essa realidade, quando o mundo todo sabe as consequências da exposição aos pesticidas, anos a fio”, afirmou.
Após saírem do ministério da Saúde, os trabalhadores depositaram as cruzes, carregadas durante o protesto, em frente ao gramado do Congresso Nacional, contabilizando, simbolicamente, os mortos e adoecidos que o governo e o Legislativo têm negado o reconhecimento de seus direitos e os cuidados decorrentes disso. (Confira o vídeo feito sobre este momento).
Planejamento
No período da tarde, a categoria se manifestou em frente ao Ministério do Planejamento, onde conseguiu uma reunião com representantes do governo. As entidades, entre elas a Condsef/Fenadsef, levaram a pauta de reivindicações dos federais que incluem cumprimento de acordos firmados ainda em 2015, revogação da EC 95/16, repúdio ao adiamento de reajustes de 253 mil servidores já transformados em Lei, além de extensão desse percentual de reposição aos demais servidores.
A situação dos planos de saúde de autogestão envolvendo uma contrapartida mínima que hoje o governo paga também foi novamente levada ao Planejamento. Servidores querem a equiparação dessas contribuições. Uma nova reunião no final da próxima semana com data ainda a ser confirmada.
A Condsef/Fenadsef criticou ainda o excesso de instruções normativas, portarias e medidas provisórias que têm sido publicadas sem que qualquer diálogo seja promovido com representantes dos servidores. Hoje foi publicada Instrução Normativa sobre jornada de trabalho, impondo critérios e regras. A Condsef/Fenadsef vai submeter a IN a uma análise de sua assessoria jurídica para averiguar quaisquer situações discrepantes. Decisões administrativas são tomadas sem qualquer debate. Para a Condsef/Fenadsef é uma forma de seguir desmontando o Estado e fragilizando o setor público já bastante sucateado e prejudicado.
Basta observar que os males da EC 95/16 em menos de dois anos já tem se apresentado. Especialistas de diversos segmentos alertam que até 2022 um colapso no atendimento público pode acontecer se esse modelo, sem qualquer precedente no mundo, for levado adiante. A política neoliberal que está sendo conduzida de forma veloz por esse governo desde o afastamento ilegítimo da presidenta Dilma Rousseff é um risco para toda população brasileira. População que paga impostos, utiliza e depende de serviços públicos essenciais que são direitos constitucionais.
Sintsep-GO com informações da Condsef