Ex-ministro da Previdência: reforma é discriminatória e ruim para economia
Em seminário da Anapar, Ricardo Berzoini abordou os riscos da PEC 6/19 que está prestes a ser votada em 2º turno no Senado. Para o ex-ministro, a proposta vai piorar o mercado interno brasileiro. “Objetivamente essa reforma é um desastre”, disse.
A Condsef/Fenadsef participou na tarde do dia 8/10 do seminário “A Previdência no Setor Público. Demandas e Desafios” realizado pela Anapar (Associação Nacional dos Participantes de Previdência Complementar e Autogestão em Saúde). A atividade contou com a participação do ex-ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, que debateu os impactos da reforma da Previdência no setor público e na sociedade. Berzoini classificou a PEC 6/19, que está prestes a ser votada em 2o turno no Senado, de profundamente equivocada. “Objetivamente essa reforma é um desastre”, resumiu. “É discriminatória, pois protege militares e ataca civis. É ruim para a economia, pois vai reduzir a renda disponível e socialmente vai empobrecer as pessoas”, acrescentou.
O ex-ministro, que disse não ser contrário a mudanças na idade mínima, argumentou que a PEC 6/19 provoca estragos maiores, pois impõe regras que vão mudar expectativas de vida, cortar direitos e adota medidas que ou dificultam ou inviabilizam o acesso dos brasileiros à aposentadoria. Em sua análise, a reforma deve prejudicar gravemente o mercado interno brasileiro. Com a aprovação do texto da PEC como está, a renda da população nos próximos anos inevitavelmente tende a diminuir. Para Berzoini, não há como garantir que o Brasil compense essa perda com crescimento da indústria e outros investimentos. “Quem garante isso?”, questiona. Para ele não há possibilidade de alcançar resultados positivos com um governo sem estratégias de investimento, de expansão do trabalho, que reduz direitos e enxerga trabalhadores e servidores públicos como inimigos.
O fantasma da capitalização
A deputada federal Erika Kokay, que participou da abertura do seminário, fez coro. Para ela o ideal seria buscar a retirada da proposta na apreciação da PEC 6/19 em 2º turno no Senado. A deputada ainda comentou sobre as preocupações das prioridades demonstradas pelo atual governo que beneficiam o rentismo enquanto se nota a ausência de um projeto de desenvolvimento nacional. Kokay levantou preocupação com a possibilidade da volta do modelo de capitalização da Previdência para o centro do debate. O tema superado na Câmara dos Deputados corre o risco de retornar numa PEC Paralela que está sendo gestada no Senado. “O governo deve persistir com essa ideia e não devemos descansar para impedir esse retorno”, disse.
A deputada destacou pontos negativos como os custos astronômicos para o Estado citando o exemplo do Chile onde foram gastos três PIB´s na transição para o sistema de capitalização, além de empobrecer os idosos. Kokay ainda citou os riscos da ausência de proteção para trabalhadores e trabalhadoras que ficariam entregues a própria sorte na gestão de suas aposentadorias. Vale lembrar que pesquisa recente mostra que mais da metade dos brasileiros não poupa para fins de aposentadoria.
Dados falsos e reforma Tributária
Objeto de matéria publicada pela Carta Capital, a descoberta de pesquisadores de que o governo usou dados falsos e inconsistentes para sustentar a proposta de reforma da Previdência foi outro ponto polêmico levantado durante o seminário. Também presente ao debate, o subsecretário da Previdência Complementar, Paulo Valle, trouxe informações que foram confrontadas pelos participantes da atividade. A própria redução e cortes em despesas discricionárias foi questionada. Isso porque tal atitude tem reflexo na inoperância de uma série de serviços públicos dos quais a população necessita.
Sobre austeridade e ajuste fiscal, Berzoini mencionou acreditar que há espaço de sobra para equalizar o problema fiscal brasileiro. Para ele a combinação de uma reforma da Previdência suave e respeitosa com uma reforma Tributária para alinhar o Brasil com o mundo moderno capitalista seria suficiente para equilibrar contas e retomar investimentos e crescimento. “Se não fizer o PIB crescer por mais ajuste nas despesas que se faça o resultado é sempre negativo”, pontuou. O ex-ministro acrescentou o que a Condsef/Fenadsef já vem alertando: sem investimento público e com o excesso de cortes haverá um colapso que prejudica os serviços públicos e portanto toda a sociedade.
Público e Privado
Para Berzoini, o discurso dos privilégios no setor público precisa ser superado. “Por muitos anos na história de nossa República, há uma campanha conduzida pela mídia que promove a destruição da imagem do público e a construção das virtudes do privado”, pontuou. “É preciso haver uma recomunhão entre público e privado”, concluiu.
Fonte: Condsef/Fenadsef