Condsef afirma: “Nós varreremos Bolsonaro do País”
Ameaças de perseguição proferidas pelo presidente são constantes, mas a resistência segue forte, solidificada na união entre entidades sindicais, movimentos sociais e parlamentares de oposição, que acreditam no desgaste e na queda bolsonarista
Em resposta à declaração de Jair Bolsonaro (PSL) durante inauguração de uma escola militarizada que leva seu nome, no interior do Piauí, o Secretário-geral da Condsef/Fenadsef, Sérgio Ronaldo da Silva, representante de 80% dos servidores públicos federais, criticou a postura do presidente e rebateu a ameaça de perseguição. “Ele diz que vai varrer a ‘turma vermelha’ do País sem nem saber o que está dizendo, numa clara demonstração de ignorância política e de utilização de discursos populistas preocupantes que pregam a violência”, aponta Sérgio Ronaldo.
Não raramente, Bolsonaro tem confundido direitos constitucionais de livre associação sindical e organização social com o conceito deturpado de comunismo, a partir de uma visão criminalizada e punitivista, resgatada da segunda metade do século XX estadunidense. Entre 1950 e 1957, alegando uma “ameaça comunista” fantasiosa e aterrorizante, intensificada pela guerra velada dos Estados Unidos à União Soviética, o senador Joseph McCarthy propôs ações de perseguição política aos que defendiam uma alternativa social ao sistema de mercado, exigindo justiça e igualdade para todos na execução de políticas públicas.
“Se Bolsonaro vem com ameaças a todos que defendem direitos, que fique muito claro que não vacilamos em nenhum momento e que seguiremos firmes na construção e na proteção da sociedade justa e igualitária em que ainda acreditamos, apesar de todas as destruições aplicadas desde o início do ano. Nós que varreremos Bolsonaro do País, mas faremos isso de forma democrática, como acreditamos que deve ser, exercendo nosso direito ao protesto e à greve se for o caso. Resistiremos firmes e unidos, aguardando ansiosamente as próximas eleições, quando poderemos reverter nas urnas a selvageria e a barbárie política que é este presidente”, enfrenta Sérgio. “Ele passará, mas nós continuaremos na luta”, complementa.
Preocupações
O problema do Brasil está longe de ser o comunismo, como alega Bolsonaro. O País enfrenta uma das maiores crises econômicas da histórica, que se intensifica a cada ano. Eleito com a promessa de recuperar os cofres públicos, a situação piora a cada mês. O desemprego aumentou, a previsão de crescimento diminuiu e especialistas alertam para o perigo do Estado secar os investimentos públicos em tempos de crise. Para economistas, em momentos como este, cabe ao Estado injetar recursos financeiros para movimentar a economia. Mas a previsão é de futuro trágico, especialmente no que diz respeito aos servidores públicos, as bolas da vez nos ataques.
Como comentado pelo especialista do Diap Antônio Augusto de Queiroz no Congresso em Foco, são dezenas de ações que o governo tem incidido contra o serviço público. Há proposta de reestruturação das carreiras, encerramento do Regime Próprio de Previdência, proposta de fim da estabilidade, fim dos concursos públicos, substituição de servidores por máquinas digitais e a lista não para por aí. “Existe claramente uma manipulação ideológica de pregar o servidor público como inimigo da nação, sendo que somos nós que defendemos as políticas públicas e lutamos pela assistência de qualidade”, comenta Sérgio Ronaldo.
Nesta semana, o discurso alienante ganhou nova dimensão. Durante um seminário promovido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), o ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que o movimento sindical apoiou a ditadura civil-militar. Entidades e centrais sindicais divulgaram nota de repúdio. “Além de ofender a memória de trabalhadores perseguidos, presos, torturados e assassinados por aquele regime, ele mostrou, com esta declaração, que não conhece a história do Brasil. Na ditadura de 1964, os sindicatos foram vítimas de intervenções, com seus dirigentes mais combativos afastados compulsoriamente e colocados no limbo pelo regime”, explica a nota.
Não estamos sós
Apesar da conjuntura, os sindicatos vivem momento de mobilização e unidade histórica, e suas vozes são potencializadas pelo apoio mútuo dos movimentos sociais que também seguem na trincheira para defender seus direitos conquistados. Essa somatória de forças foram responsáveis pela construção de uma semana expressiva, centrada na resistência da população brasileira consciente dos retrocessos vividos nos últimos tempos, especialmente com a possibilidade de fim das aposentadorias e de privatização das universidades federais.
Depois da força, da coragem e das reivindicações da I Marcha das Mulheres Indígenas, dos atos nacionais pela Educação e da Marcha das Margaridas, que reuniu mais de 100 mil pessoas na capital federal, foi lançada nesta quinta-feira, 15, a Frente Parlamentar Feminista Antirracista, que intensifica a resistência anti-Bolsonaro no Parlamento brasileiro. “Este é um dia histórico, neste governo, nesta conjuntura. Se a gente chegou no Parlamento, é pra devolver o poder para o povo, transformar o poder em instrumento de luta popular. Esta Casa só faz sentido se tiver nossa cara, nosso corpo e nossas cores”, declarou a deputada federal e coordenadora da Frente, Talíria Petrone (Psol-RJ).
Com informações da Consef/Fenadsef