EPIs: novos dados mostram que trabalhadores seguem desprotegidos
Um mês e meio após primeiro levantamento da campanha “Trabalhadoras e Trabalhadores Protegidos Salvam Vidas”, situação ainda é grave. Profissionais de serviços essenciais seguem sem proteção e em sofrimento psicológico. 64% são servidores públicos
Se em meados de abril os dados divulgados da campanha “Trabalhadoras e Trabalhadores Protegidos Salvam Vidas” eram alarmantes, o cenário continua preocupante, mesmo após denúncias feitas por entidades representativas dos profissionais de serviços essenciais no Brasil. Mais de 3 mil pessoas responderam ao questionário aplicado pela Internacional dos Serviços Públicos (ISP), organização da qual a Condsef/Fenadsef faz parte. Do total, 64% são servidores públicos. Entre um levantamento e outro, a expectativa era de que o número de pessoas com Equipamentos de Proteção Individual aumentasse, mas isso não aconteceu. 64% ainda afirmam não terem EPIs suficientes.
Outro elemento preocupante é a falta de capacitação desses profissionais para atuar em situação excepcional. 77% dos participantes responderam não ter passado por treinamento adequado para o trabalho desenvolvido junto à população. 11% disseram não ter nenhum EPI fornecido. 21% são usuários de transporte público, o que agrava as chances de contaminação da população. 53% alegaram passar por sofrimento psíquico neste momento.
O relatório de análise dos dados levantados pela ISP demonstra surpresa com a redução do número de pessoas com equipamentos de proteção específicos, como por exemplo, luvas, vestimentas e óculos de proteção. Todos esses elementos tiveram taxas reduzidas de fornecimento. O único item que teve aumento de abastecimento nos locais de trabalho, segundo relato dos participantes, foi o fornecimento de álcool em gel, com acréscimo de 1%, número pouco significativo.
Perfil dos informantes
Dos mais de 3 mil participantes, predominam profissionais da área de saúde, mulheres e servidoras públicas. A idade média dos respondentes é de 41 anos. A maior e menor idade dos respondentes se manteve em 20 e 72 anos, respectivamente. Com relação à jornada de trabalho, 32% relatam fazer 12 ou mais horas de trabalho diariamente, o que é excessivo. Um número muito pequeno de trabalhadores (4%) relata existir oferta de hospedagem, para que não precisem retornar para suas residências e possam proteger suas famílias do risco de contaminação.
Gravidade
Tão grave quanto perceber que somente metade dos respondentes relataram receber máscaras de proteção é a informação de que, para 64%, os EPIs fornecidos são em quantidade insuficiente para a devida troca e higienização. Outro dado que chama atenção é o volume e a dramaticidade dos relatos apresentados em uma pergunta não obrigatória, mas respondida por 53% dos participantes da enquete, dando comentários gerais em relação às condições de trabalho. A maioria destes comentários detalham os dramas vividos pelos trabalhadores e trabalhadoras em condições de risco, sem equipamentos e tendo que lidar com situações para as quais não foram devidamente capacitados.
Segundo a ISP, também foi feita análise comparativa das respostas de acordo com o sexo dos participantes. Percebe-se com clareza maior incidência de sofrimento psíquico entre as mulheres e aqueles que preferem não declarar seu sexo do que em homens. O dado aponta para as desigualdades de gênero: dupla ou tripla jornada de trabalho feminina, menores salários, maior precarização das relações de trabalho, exposição ao assédio moral e/ou sexual entre outras questões.
Campanha segue
Os dados foram coletados pela aplicação de uma enquete, em formulário eletrônico, entre profissionais de saúde e de serviços essenciais, dos setores público e privado. Foram coletadas 3.361 respostas obtidas entre os dias 31 de março e 27 de maio de 2020. A Campanha “Trabalhadoras e Trabalhadores Protegidos Salvam Vidas” faz parte da atuação internacional no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus da ISP, confederação sindical internacional que representa 30 milhões de trabalhadores em todo o mundo. No Brasil a campanha foi lançada pelas entidades afiliadas, entre elas, a Condsef/Fenadsef.
O formulário da enquete seguirá aberto para participação dos trabalhadores, para atualização semanal, e os dirigentes reforçam a necessidade de registro das condições diárias de segurança e saúde, para que as ações sindicais possam ser mais precisas. Os dados informados são sigilosos.
Fonte: Condsef/Fenadsef